Magüta de Umariaçu I Avançam com Urgência nos Ajustes do Projeto Floresta+ Amazônia para Fortalecer a Gestão Territorial e Cultural

Magüta da aldeia Umariaçu I fizeram com urgência os ajustes para alinhamentos das ações do Projeto+ Amazônia.


Foto: Tchurucü Mẽpe

Em um gesto de força e urgência ancestral, as lideranças e membros da comunidade indígena Magüta da Aldeia Umariaçu I, em Tabatinga-AM, se reuniram nos dias 30 de janeiro e 1º de fevereiro de 2024 para readequar coletivamente o Projeto Floresta+ Amazônia, aprovado na chamada pública do PNUD Brasil sob o ID 087. O encontro, que seguiu orientações do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e da COIAB, foi convocado como parte do compromisso coletivo de proteger a Terra Indígena Umariaçu. A reunião noturna do dia 30 foi marcada por escuta, espiritualidade e sabedoria coletiva.

Durante o primeiro momento, lideranças, jovens e mulheres analisaram a matriz lógica do projeto, destacando pontos que precisavam ser ajustados para garantir maior eficiência e participação da comunidade. O plano prevê a realização de 6 cursos intensivos, cada um com 6 módulos e duração de 10 dias, distribuídos ao longo de quase dois anos. O ingresso será cuidadosamente proporcional: 50% mulheres, 30% jovens, 15% adultos e 5% anciãos. Esse critério segue os princípios da representatividade ancestral, com equilíbrio intergeracional e igualdade de gênero.

Foto: Tchurucü Mẽpe

As lideranças reforçaram que os cursos não se tratam apenas de capacitação técnica, mas de revitalização do conhecimento tradicional. Cada módulo será uma oportunidade de compartilhar saberes de manejo florestal, mapeamento cultural, agroecologia, artesanato e vigilância comunitária. A meta não é apenas formar 50 alunos por curso, mas garantir que o saber indígena retorne às raízes e seja cultivado nas futuras gerações como resistência e autonomia.

A comunidade também debateu a criação de um Protocolo de Proteção Territorial. Esse documento será elaborado com base no pensamento indígena e servirá como instrumento político e jurídico para proteger o território diante das ameaças externas. Será um marco para a defesa do Bem Viver: saúde, educação diferenciada, soberania alimentar, espiritualidade, manejo sustentável e vigilância cultural. Esses direitos não são favores — são heranças da ancestralidade e dever do Estado.

Outro ponto importante abordado foi o início do Projeto de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Umariaçu. As lideranças enfatizaram que esse PGTA será o escudo coletivo da floresta viva, protegendo as nascentes, os igarapés, as áreas degradadas e os territórios de roça. Com etnomapeamentos e diagnósticos etnoambientais participativos, o povo Magüta vai escrever sua própria cartografia, com visão espiritual e territorial integrada.

Foto: Tchurucü Mẽpe

No segundo momento, ocorrido no dia 1º de fevereiro, a reunião iniciou com um ritual conduzido pelo cacique e anciãos, marcando o início das deliberações com cantos e bênçãos de proteção. A agenda foi retomada com foco nos ajustes finais: redefinição dos indicadores, número de oficinas, quantidade de mudas a serem produzidas e espécies a serem recuperadas. Houve também inclusão de atividades como feiras de artesanato e intercâmbios culturais entre aldeias.

Os ajustes incluíram o uso de registro audiovisual como forma de documentação viva das ações — fotos, vídeos e depoimentos que eternizam o processo formativo, o trabalho coletivo e os conhecimentos compartilhados. O audiovisual também servirá como material educativo para outras aldeias. A comunidade decidiu que os materiais devem ser bilíngues: em Tikuna e em português, garantindo identidade e comunicação com parceiros externos.

As mulheres Ticuna, guardiãs da terra e da cultura, desempenharam papel fundamental nas decisões. Reivindicaram a valorização das oficinas de artesanato, medicina tradicional, cultivo agroflorestal e educação ambiental nas escolas. Sua participação não é decorativa, é estruturante. Como disseram em assembleia: “Nós somos o colo da floresta, e onde se planta com cuidado, o futuro floresce.”

O Projeto Floresta+ Amazônia com ID 087 tem previsão de início em março de 2024 e conclusão em janeiro de 2026. A história dirá que esse projeto não foi apenas mais uma ação institucional, mas um pacto coletivo de resistência, preservação e sonho ancestral. Com as bênçãos dos anciãos e a energia da juventude, os Magüta reafirmam seu papel de guardiões da floresta viva.

Em Umariaçu I, mais do que cumprir prazos, o povo cumpre um chamado espiritual: cuidar da floresta é cuidar da própria alma coletiva. O projeto não começa agora — ele é continuação de uma luta antiga, que pulsa nas veias do povo Ticuna. E agora, com o Floresta+, essa luta ganha fôlego novo, raízes mais profundas e asas para alcançar novas gerações.


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