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Foto: @magutanative |
Entre os dias 02 e 04 de maio de 2025, foi realizado o Seminário de Elaboração do Projeto Pedagógico de Curso (PPC) da Universidade Indígena do Alto Amazonas – UIDA, na comunidade indígena Vendaval, localizada no município de São Paulo de Olivença – AM. O encontro reuniu mais de 200 participantes, entre lideranças tradicionais e caciques que vieram do diversas aldeias, pesquisadores indígenas, educadores e representantes institucionais, com o objetivo de fortalecer a construção autônoma da educação superior indígena na região.
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O seminário contou com a presença da Presidenta da UIDA, Eli Catachunga Ticuna (Mestre), membros da universidade e representantes do Conselho Geral do Povo Ticuna (CGTT), incluindo o presidente Paulinho Ticuna, e o pedagogo Alciney Marubo, assessor técnico da UNIVAJA. Participaram também o coordenador Damba Matis, da Associação Indígena Matis (AIMA), e representantes da Associação Kokama de Benjamin Constant.
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A presença de lideranças e representantes de povos do Vale do Javari, destacou o caráter trinacional do projeto, reforçando a articulação dos saberes e necessidades dos povos indígenas que vivem em áreas de fronteira.
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O evento foi realizado em parceria com a Coordenação Regional Alto Solimões da FUNAI, sob liderança de Erik Aiambo, e com a contribuição do antropólogo Dr. Widney e da educadora Dra. Gilvânia, ambos da Universidade Federal do Amazonas (INC/UFAM) e assim tambem o Francisco Ticuna de Wotimaücü - Colegiado dos estudantes indígenas na Universidade do Estado do Amazonas - UEA/Manaus. Também esteve presente Yang Ticuna, representante da Coordenação-Geral de Planejamento e Gestão da SESU/MEC – Brasília, reforçando o diálogo com o Governo Federal.
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A proposta da UIDA nasceu durante a pandemia da COVID-19, no ano de 2020, quando lideranças Ticuna reuniram-se em uma grande convocação na Semana dos Povos Indígenas. Mais de 600 participantes dos povos Ticuna do Brasil, Peru e Colômbia debateram a criação de uma universidade indígena, mesmo diante das críticas recebidas por romper protocolos sanitários à época. As lideranças justificaram a urgência da mobilização pela morte de muitos parentes e o uso dos conhecimentos tradicionais na proteção das comunidades.
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Apesar das adversidades, a proposta seguiu firme, ganhando apoio popular e institucional. Em 2024, sob a liderança de Eli Catachunga, foi constituída uma equipe jurídica e técnica indígena, com mestres, doutores, especialistas e a empresária indígena Maria Bonita, para estruturar a base legal e pedagógica da UIDA.
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A UIDA será uma instituição privada sem fins lucrativos, gratuita e com modelo filantrópico, com foco na educação superior indígena intercultural e comunitária. Sua missão é atender às juventudes da região do Alto Solimões, do Vale do Javari e das áreas de fronteira, promovendo a continuidade dos estudos e a valorização das práticas tradicionais aliadas ao conhecimento científico.
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Durante o seminário, foi estruturado um Grupo de Trabalho (GT) composto por profissionais e lideranças para a elaboração coletiva do PPC, com base em princípios pedagógicos comunitários e interculturais. Essa construção visa garantir que a formação superior indígena respeite as especificidades culturais, linguísticas e territoriais dos povos envolvidos.
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Segundo as lideranças envolvidas na construção da UIDA, esta será uma universidade que carrega, de fato, o rosto indígena — concebida, planejada e gerida pelos próprios povos originários. Diferente das universidades ocidentais tradicionais, que muitas vezes não contemplam as realidades e saberes dos territórios indígenas, a UIDA nasce com a missão de ser um espaço político, educativo e espiritual voltado às necessidades reais das comunidades.
“Não queremos apenas um prédio com nome indígena. Queremos uma universidade onde a política indígena esteja viva, onde nossas preocupações com o território, com a juventude, com a continuidade dos saberes dos nossos anciãos e com a proteção de nossas culturas estejam no centro do projeto”, afirmam os representantes Magüta.
A proposta é transformar o ensino superior em uma ferramenta de fortalecimento da autonomia, da resistência e da reconstrução de futuros para os povos do Alto Solimões, Vale do Javari e regiões transfronteiriças.
A regulamentação do PPC junto ao Ministério da Educação (MEC) será um passo decisivo para o credenciamento oficial da UIDA, garantindo reconhecimento legal e respaldo institucional. A proposta da universidade já foi apresentada em Brasília em 2024, com retorno positivo dos órgãos visitados, e agora avança com o envolvimento direto das comunidades indígenas.
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Esse seminário marca um momento histórico para a juventude indígena, sendo um marco na luta por uma universidade concebida pelos próprios povos originários. A iniciativa reafirma o direito à educação diferenciada, autônoma e fundamentada nos saberes dos povos indígenas, fortalecendo a identidade cultural e o protagonismo dos estudantes indígenas na produção do conhecimento.
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A construção da UIDA nasce a partir do chão das aldeias, da escuta dos mais velhos, do sonho dos jovens e da força das lideranças. É a afirmação de que o pensamento indígena não está à margem, mas no centro do futuro da educação, dialogando com o mundo sem abrir mão da sua ancestralidade. A UIDA é mais do que uma instituição de ensino: é um movimento de resistência, de esperança e de transformação.
Nhiã Wuigü Poraãcüma Ita Ngue'e Taegü!
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