![]() |
Foto: @magütanative |
Após o encerramento do 1º Fórum Internacional Indígena – Segurança Pública, Justiça Social e Acordo de Paz na Tríplice Fronteira, lideranças indígenas dos povos Ticuna, Kokama, Witoto, Kanamari, Kaixana, Kambeba, Marubo, Mayuruna e Matses organizaram uma manifestação pacífica em direção à sede do Ministério Público Federal (MPF) em Tabatinga. A mobilização denunciou a omissão histórica do Estado brasileiro em relação a segurança publica diante das graves violações de direitos e da falta de proteção aos territórios indígenas na região Alto Solimões.
![]() |
Foto: @magütanative |
Caminhando a partir da quadra poliesportiva onde ocorreu o fórum, o grupo percorreu as ruas da cidade com canticos sagrados, ritos de guerra, cartazes e gritos de resistência, liderados por mulheres, anciãos, jovens e representantes tradicionais. A manifestação simbolizou não apenas o descontentamento, mas também a força coletiva dos povos originários diante da negligência histórica dos órgãos de justiça.
![]() |
Foto: @magutanative |
Ao chegarem ao MPF, os manifestantes não foram recebidos de imediato, o que intensificou o ato. Durante mais de uma hora de espera e negociação, lideranças indígenas, em especial mulheres sob a liderança de Josi Ticuna, seguiram entoando cânticos e gritos sagrados até que finalmente foram atendidas. A presença da Polícia Federal foi acionada, e, após muita insistência, dez lideranças foram recebidas para uma reunião emergencial com o procurador da República em exercício.
![]() |
Foto: @magütanative |
Durante o encontro, foi entregue oficialmente um documento com as demandas do Fórum Internacional, além de reivindicações específicas da Terra Indígenas do Alto Solimões. As lideranças ressaltaram que, mesmo após três meses do envio de ofício ao MPF informando sobre o fórum, nenhum representante compareceu às reuniões do movimento. Isso reforça o sentimento de invisibilidade institucional e desrespeito ao protagonismo indígena.
![]() |
Foto: @magütanative |
A reunião com o procurador revelou que algumas medidas já estavam em andamento, como o diálogo com a Sexta Câmara do MPF para reativar a base Anzol na região do Alto Solimões, uma antiga reivindicação das comunidades da região. O procurador afirmou estar há apenas um ano na região, mas demonstrou abertura ao diálogo e à construção de soluções interministeriais, incluindo ações conjuntas com o Exército, Marinha, Polícia Federal e FUNAI.
![]() |
Foto: @magütanative |
As lideranças deixaram claro que as instituições estatais falharam em garantir a proteção dos territórios indígenas. A ausência de fiscalização nas margens do rio Solimões tem facilitado o avanço do narcotráfico, da extração ilegal de madeira e pesca predatória, bem como a atuação de piratas e facções criminosas. O resultado disso é a deterioração dos modos de vida tradicionais, aumento da violência, alcoolismo, conflitos e suicídios entre jovens indígenas.
![]() |
Foto: @magütanative |
Foi ressaltado que a presença do Estado em Tabatinga é massiva — com forças armadas, órgãos de justiça, indigenistas e segurança pública — mas sem impacto efetivo na garantia de direitos. A Funai, por sua vez, frequentemente declara não ter competência para resolver os casos, transferindo responsabilidades e deixando as comunidades desprotegidas.
![]() |
Foto: @magütanative |
A manifestação também denunciou a urbanização acelerada dos territórios indígenas, com crescimento populacional e pressões externas, sem o devido planejamento ou políticas públicas voltadas às necessidades específicas das comunidades. As lideranças reivindicaram a criação de protocolos de atendimento interministerial, com prazos definidos e participação direta das comunidades.
![]() |
Foto: @magütanative |
A carta entregue ao procurador reforçou que a Secretaria de Saúde Indígena - SESAI não deve falar pelos povos indígenas, mas sim com eles "os povos da região"e por meio deles. Foi exigido que os órgãos respeitem o direito de autodeterminação, e que os agentes de proteção territorial e florestal indígenas sejam reconhecidos e remunerados por sua atuação, inclusive com apoio ao projeto de lei defendido pela deputada Célia Xakriabá.
![]() |
Foto: @magütanative |
As lideranças ficaram do lado de fora até que aquelas que entraram trouxeram respostas, e a mobilização seguiu até a noite. A manifestação seguiu a foi considerada um marco histórico de resistência e articulação coletiva. Demonstrou que a força dos povos indígenas da tríplice fronteira segue viva e mobilizada. As lideranças encerraram o ato com o compromisso de seguir fortalecendo o Fórum Internacional Indígena e exigindo que as instituições públicas cumpram seu dever constitucional de proteger os povos originários e seus territórios.
1 Comentários