Magüta Celebra o 9 de Agosto: Dia Internacional dos Povos Indígenas como Manifesto de Resistência, Sabedoria Ancestral e Luta por Justiça


Foto: Magüta Native

No coração das florestas do Alto Solimões, o povo Magüta celebra o Dia Internacional dos Povos Indígenas com cantos, memória e resistência. A data, marcada oficialmente pela ONU em 1994, é para os povos originários muito mais que um símbolo — é um grito ritual de existência e continuidade. Neste 9 de agosto, os Magüta reafirmam seu papel como guardiões da terra, das águas, das palavras sagradas e da vida. É um dia de celebrar, mas também de lembrar que as conquistas vieram — e ainda vêm — com luta, sangue e sabedoria.

O espírito do 9 de agosto ecoa entre os troncos das seringueiras e nos batuques dos maracás, chamando a atenção para o direito à autodeterminação, à preservação dos territórios, das línguas e dos modos de vida. Cada aldeia, cada fogueira acesa, cada grafismo no corpo é parte de um legado que não pode ser apagado. O povo Magüta, com suas mais de 70 mil vozes, reafirma neste dia que não quer ser apenas lembrado, mas respeitado e ouvido como sujeito da própria história.

A cosmovisão indígena, profundamente enraizada na relação de reciprocidade com a natureza, ensina que não há separação entre humanidade e floresta. O Magüta sabe que proteger o território é proteger a própria vida. Assim, as práticas tradicionais de manejo do solo, roça orgânica, pesca e uso medicinal das plantas tornam-se atos políticos e ecológicos de resistência diante da colonização do pensamento e do território.

No Magüta, celebrar é também denunciar. É lembrar do massacre de Boca do Capacete, da destruição causada por madeireiros e dos constantes ataques às lideranças que defendem a floresta. O Dia Internacional dos Povos Indígenas, para nós, não se limita a um evento institucional — ele é um chamado espiritual para que o Brasil e o mundo olhem com verdade para os genocídios silenciados e as políticas anti-indígenas travestidas de progresso. As contribuições dos povos indígenas para o planeta são inegáveis. Desde antes da colonização, já preservávamos o equilíbrio ambiental com técnicas que hoje a ciência começa a compreender. Somos os primeiros educadores do território, com saberes que passam de geração em geração pela oralidade, pela convivência, pela escuta do tempo. Nossas escolas não têm muros, mas têm ancestralidade.

Nosso idioma Ticuna, como muitos outros, está ameaçado. Por isso, neste 9 de agosto, também gritamos pela valorização das línguas indígenas como tesouros vivos da humanidade. Onde há língua viva, há pensamento livre. Onde há grafismo, há memória. Onde há canto ritual, há resistência. E onde há resistência, há futuro.

Hoje, lideranças Magüta e jovens comunicadores indígenas transformam palavras em instrumentos de luta: livros, documentários, rádios comunitárias e redes sociais narram nossas verdades. Celebrar o Dia dos Povos Indígenas também é abrir espaço para que nossas histórias sejam contadas por nós, com nossos próprios marcos, símbolos e vozes. Isso é descolonizar a comunicação. As mulheres Magüta, mães, parteiras, anciãs e guerreiras, também assumem papel central nessa celebração. São elas que mantêm o fogo da tradição aceso, conciliando o cuidado com a família e o trabalho comunitário com a luta por direitos e visibilidade. Neste dia, rendemos respeito às nossas matriarcas, as raízes vivas da nossa floresta interior.

O 9 de agosto é também um momento de articulação. Reforçamos a aliança entre povos indígenas do Brasil e do mundo, entre os territórios da Amazônia, do Xingu, do Cerrado e dos Andes. A solidariedade entre os povos é um princípio que aprendemos com nossos ancestrais: ninguém se salva sozinho. Por isso, a união é uma de nossas maiores armas contra os desmontes e retrocessos.

Neste dia internacional, os Magüta convidam o mundo a ouvir a floresta com os ouvidos do coração. A refletir não apenas sobre os direitos violados, mas sobre os futuros possíveis que nascem do pensamento indígena. A celebrar não como espetáculo, mas como pacto. Que o 9 de agosto não seja apenas lembrado, mas vivido com dignidade, memória e justiça para todos os povos originários.

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