Lideranças Magüta Fortalecem Alianças no Vale do Javari: Vozes Magüta Ecoam em Assembleia com Ministra Sonia Guajajara


Foto: Divulgação

No dia 28 de fevereiro de 2024, um momento histórico e simbólico marcou a caminhada política do povo Ticuna no Alto Solimões. Lideranças indígenas Magüta cruzaram os rios em direção ao município de Atalaia do Norte, no Vale do Javari, para participar da Assembleia das Lideranças da UNIVAJA — uma reunião que contou com a presença de Sonia Guajajara, Ministra dos Povos Indígenas, Joenia Wapichana, Presidente da Fundação dos Povos Indígenas (FUNAI), e representantes da SESAI e outros órgãos federais.

Representando com firmeza os territórios do povo Ticuna, estiveram presentes Sinésio Ticuna (presidente do FOCCIT), Isaque Ticuna (vice-presidente do CGTT), além de professores, jovens, anciãos e caciques que compõem as bases políticas e culturais das aldeias de Benjamin Constant, Tabatinga e região. A força coletiva expressa nessa articulação demonstra que o povo Magüta não apenas resiste — ele propõe, participa e exige o que lhe é de direito.

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A concentração dos representantes Ticuna iniciou pela manhã no Museu Magüta, em Benjamin Constant. De lá, as lideranças se dirigiram em comitiva até Atalaia do Norte, reafirmando o espírito de mobilização e união em torno de pautas urgentes e históricas. O encontro com os representantes dos ministérios foi mais do que simbólico: foi uma entrega coletiva das demandas que o Alto Solimões já havia tramitado formalmente, mas que seguem sem respostas.

Entre os encaminhamentos entregues, estava a reivindicação para que os nomes indicados pelas lideranças ocupem os cargos de Coordenação Regional da FUNAI CR Alto Solimões e do DSEI Alto Rio Solimões. As ausências nessas coordenações têm causado sérios prejuízos à gestão territorial e à saúde indígena, prejudicando diretamente o funcionamento de políticas públicas diferenciadas nos territórios Ticuna.

As falas dos representantes Ticuna deixaram claro que não há mais espaço para decisões centralizadas e sem consulta. É o tempo da governança indígena, da política feita com os pés no chão da aldeia, com escuta ativa e planejamento conjunto. O encontro com a Ministra Sonia Guajajara reforçou que as vozes Ticuna precisam ser prioridade não apenas na escuta, mas na execução.

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Entre as demais pautas reivindicadas, destacaram-se a ampliação das Terras Indígenas já homologadas, a demarcação de novas áreas, melhorias urgentes na saúde indígena, segurança nos territórios e a criação de um polo de Ensino Superior Indígena Diferenciado, que já vem sendo articulado pelo povo Ticuna com universidades parceiras. A ministra recebeu as demandas e afirmou o compromisso de abrir um canal de diálogo contínuo.

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Um marco importante anunciado pelas lideranças foi o convite oficial para que Sonia Guajajara participe do ato simbólico e histórico do dia 28 de março de 2024, na Aldeia Umariaçu II, data em que o povo Magüta relembra o “Massacre do Capacete”. A presença da ministra nesse momento será uma reparação simbólica e institucional à memória dos mortos e aos sobreviventes do genocídio que marcou a história da luta Ticuna por território e justiça.

A visita ao Vale do Javari também serviu para fortalecer alianças entre os povos Ticuna e as lideranças dos povos do Javari. Essa união entre territórios, mesmo com suas especificidades, é parte de uma estratégia política ancestral que busca garantir a proteção de toda a Amazônia indígena, valorizando as identidades culturais e os sistemas próprios de governança.

Para o povo Magüta, resistir é criar. É sonhar com novos caminhos baseados no pensamento ancestral, mas com estratégias políticas firmes. As novas gerações estavam presentes na comitiva, representando o futuro dessa luta — com câmeras, cadernos, cantos e sabedorias, transformando política em território vivo. A caminhada Ticuna segue firme, agora com olhos atentos e passos cada vez mais coletivos.

Esta assembleia não foi apenas uma agenda institucional. Foi um chamado do território, um sopro do Tambor do Alto Solimões que ecoa entre as florestas e os rios. Um lembrete de que o Brasil profundo pulsa com a força dos povos originários, que não pedem favor, exigem justiça e seguem guiados pelos espíritos antigos de luta e sabedoria.


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