28 de Março: O massacre da boca do capacete e a luta do povo Magüta


O povo Magüta, conhecido como a etnia Ticuna, carrega em sua história marcas profundas de violência e resistência. No dia 28 de março de 1988, ocorreu um dos episódios mais trágicos e brutais contra os povos indígenas do Brasil: o Massacre da Boca do Capacete. Esse evento genocida aconteceu na foz do igarapé do Capacete, às margens do rio Solimões, no município de Benjamim Constant, Amazonas. Naquela data, 16 vidas foram cruelmente ceifadas por pistoleiros, que agiram em defesa dos interesses de posseiros e madeireiros.

A região da Boca do Capacete era um território de ocupação histórica dos Magüta, reconhecida pela existência de um antigo cemitério Ticuna. Em 1982, a FUNAI identificou a área como parte da delimitação das terras tradicionais daquele povo. No entanto, a demarcação do território gerou conflitos com grupos de posseiros e madeireiros, que viam a presença dos indígenas como um obstáculo para a exploração de recursos naturais.

O Dia do Massacre

Na manhã do dia 28 de março de 1988, lideranças das comunidades Porto Espiritual, Porto Lima, Bom Pastor e São Leopoldo estavam reunidas na casa do Ticuna Aseliares Flores Salvador para discutir estratégias de defesa de seus territórios. No meio da assembleia, um grupo de pistoleiros fortemente armados invadiu o local, abrindo fogo contra os presentes. Entre as vítimas estavam crianças, idosos e lideranças indígenas, que foram brutalmente assassinados. Os agressores não apenas tiraram vidas, mas também atiraram os corpos de muitas vítimas no rio Solimões, dificultando a contabilização exata dos mortos.

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De acordo com a FUNAI e o Ministério Público Federal (MPF/AM), o Massacre da Boca do Capacete resultou em 16 mortos oficialmente reconhecidos, sendo: 4 mortos em terra, 9 desaparecidos cujos corpos foram jogados no rio e posteriormente dados como mortos; 3 falecidos anos depois, devido às sequelas do ataque; Além disso, 4 indígenas sobreviveram, mas tiveram sua saúde gravemente afetada.

O caso foi denunciado pelo MPF e 14 pessoas foram acusadas de envolvimento no genocídio. O madeireiro Oscar Castelo Branco, apontado como mandante, foi condenado a 24 anos de prisão em 2001 pela 1ª Vara da Justiça Federal em Manaus. Outros envolvidos receberam penas entre 15 e 25 anos de prisão. No entanto, em 2004, Castelo Branco foi absolvido pelo Tribunal Regional Federal, e as penas dos demais condenados foram reduzidas para 12 anos. A decisão revoltou o povo Magüta e evidenciou a fragilidade da justiça brasileira na proteção dos direitos indígenas.

"Magüta" o povo resistente!

Apesar das violências sofridas, o povo Magüta segue resistindo, persistindo e existindo. A luta pela demarcação e proteção das terras tradicionais continua em 2025, enfrentando desafios como invasões ilegais, exploração de madeira, narcotráfico e a omissão do Estado. No mês de março, a memória do Massacre da Boca do Capacete deve ser resgatada para reforçar a necessidade de justiça e o direito à terra dos povos originários.

A decolonização da história passa pela valorização das vozes indígenas, pela recuperação da memória ancestral e pelo fortalecimento da identidade cultural dos Magüta. O Estado brasileiro precisa reconhecer as violências históricas e garantir que massacres como o de 1988 nunca mais se repitam.

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