A região da Boca do Capacete era um território de ocupação histórica dos Magüta, reconhecida pela existência de um antigo cemitério Ticuna. Em 1982, a FUNAI identificou a área como parte da delimitação das terras tradicionais daquele povo. No entanto, a demarcação do território gerou conflitos com grupos de posseiros e madeireiros, que viam a presença dos indígenas como um obstáculo para a exploração de recursos naturais.
O Dia do Massacre
Na manhã do dia 28 de março de 1988, lideranças das comunidades Porto Espiritual, Porto Lima, Bom Pastor e São Leopoldo estavam reunidas na casa do Ticuna Aseliares Flores Salvador para discutir estratégias de defesa de seus territórios. No meio da assembleia, um grupo de pistoleiros fortemente armados invadiu o local, abrindo fogo contra os presentes. Entre as vítimas estavam crianças, idosos e lideranças indígenas, que foram brutalmente assassinados. Os agressores não apenas tiraram vidas, mas também atiraram os corpos de muitas vítimas no rio Solimões, dificultando a contabilização exata dos mortos.
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De acordo com a FUNAI e o Ministério Público Federal (MPF/AM), o Massacre da Boca do Capacete resultou em 16 mortos oficialmente reconhecidos, sendo: 4 mortos em terra, 9 desaparecidos cujos corpos foram jogados no rio e posteriormente dados como mortos; 3 falecidos anos depois, devido às sequelas do ataque; Além disso, 4 indígenas sobreviveram, mas tiveram sua saúde gravemente afetada.
O caso foi denunciado pelo MPF e 14 pessoas foram acusadas de envolvimento no genocídio. O madeireiro Oscar Castelo Branco, apontado como mandante, foi condenado a 24 anos de prisão em 2001 pela 1ª Vara da Justiça Federal em Manaus. Outros envolvidos receberam penas entre 15 e 25 anos de prisão. No entanto, em 2004, Castelo Branco foi absolvido pelo Tribunal Regional Federal, e as penas dos demais condenados foram reduzidas para 12 anos. A decisão revoltou o povo Magüta e evidenciou a fragilidade da justiça brasileira na proteção dos direitos indígenas.
"Magüta" o povo resistente!
Apesar das violências sofridas, o povo Magüta segue resistindo, persistindo e existindo. A luta pela demarcação e proteção das terras tradicionais continua em 2025, enfrentando desafios como invasões ilegais, exploração de madeira, narcotráfico e a omissão do Estado. No mês de março, a memória do Massacre da Boca do Capacete deve ser resgatada para reforçar a necessidade de justiça e o direito à terra dos povos originários.
A decolonização da história passa pela valorização das vozes indígenas, pela recuperação da memória ancestral e pelo fortalecimento da identidade cultural dos Magüta. O Estado brasileiro precisa reconhecer as violências históricas e garantir que massacres como o de 1988 nunca mais se repitam.
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