Juventude Indígena em Alerta: Resistência e Esperança Contra as Drogas e o Alcoolismo


Foto: Magüta Native

No dia 24 de julho de 2024, a aldeia Umariaçu II, na Terra Indígena Tikuna, foi palco de um encontro histórico e comovente, onde jovens indígenas ergueram suas vozes em defesa da vida, da cultura e da dignidade. O evento teve como foco a escuta profunda das necessidades urgentes da juventude diante dos impactos do alcoolismo e das drogas nos territórios indígenas do Alto Rio Solimões.

Organizado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Solimões (DSEI-ARS), o encontro reuniu diversos parceiros institucionais, contando com a presença de profissionais da saúde mental, psicólogos e representantes das comunidades. Foi uma ação coletiva para ouvir os jovens, sentir suas dores e, juntos, construir caminhos de esperança.

Estiveram presentes instituições como a Defensoria Pública do Estado e da União, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o Ministério dos Povos Indígenas, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a UNIVAJA, a Segurança Pública estadual e municipal, e a Fundação Estadual dos Povos Indígenas do Amazonas. A união entre essas forças demonstra que a juventude indígena não está sozinha em sua luta.

Foto: Magüta Native

O encontro fez parte da Estratégia Nacional dos Povos Indígenas na Política sobre Drogas, sendo um momento marcante de escuta ativa e de valorização da sabedoria ancestral combinada à necessidade de políticas públicas eficazes. O pensamento indígena nos ensina que "não há cura sem escuta", e este encontro foi uma verdadeira ciranda de palavras e de cura.

Durante as rodas de conversa, os jovens partilharam experiências duras de exclusão, abandono, vícios e violência, mas também sonhos, ideias e soluções. Foi neste espaço de diálogo que nasceu a proposta de implantação de um projeto piloto de enfrentamento ao uso abusivo de álcool e drogas nas comunidades de Umariaçu I e II.

Foto: Magüta Native

A juventude da Rede de Jovens Indígenas do Alto Rio Solimões (REJICARS) se destacou como protagonista. Suas lideranças apresentaram propostas educativas, culturais e de fortalecimento territorial, compreendendo que só há futuro com raízes profundas no território e na cultura. Foram sugeridas oficinas de etnoeducação, agroecologia, arte, música tradicional, comunicação indígena, espiritualidade, rodas de cura e esporte, como formas de reconstruir os laços entre o corpo, o território e o espírito. Os jovens pediram também espaços seguros onde possam ser ouvidos, crescer, estudar e florescer.

A juventude declarou: “não queremos mais perder irmãos para as drogas e o álcool”. Este clamor ecoou com força, e foi recebido com respeito por todas as autoridades presentes. O pensamento indígena afirma: “a cura de um é a cura de todos”, e é com esse espírito que o projeto avançará para outras comunidades do Alto Solimões. A sabedoria das anciãs presentes lembrou que o desequilíbrio espiritual dos jovens é consequência do desequilíbrio com a floresta, com os rios e com os saberes sagrados. Por isso, o projeto deve incluir ações de reconexão com os territórios, com as línguas e com os rituais.

A fala das mulheres foi potente: “Quando uma mulher indígena chora por seu filho, toda a comunidade sente”. Elas pediram mais proteção, atenção e investimento nas políticas públicas voltadas para a juventude, a maternidade e os saberes femininos tradicionais.

Foto: Magüta Native

A escuta pública também apontou para a necessidade urgente de formação de lideranças jovens que possam atuar como educadores sociais, monitores etnoambientais e comunicadores indígenas, ajudando a transformar suas realidades por dentro, com a força da ancestralidade e a ousadia da juventude. Diante de tantas falas potentes, foi consenso entre os participantes que “chegou o tempo do protagonismo jovem indígena”, e que políticas públicas só terão legitimidade se forem construídas de baixo para cima, com o povo, e desde os territórios.

As autoridades presentes se comprometeram em construir, junto com as comunidades, planos de ação integrados, respeitando os tempos e modos de vida dos povos indígenas, e valorizando seus saberes, cosmologias e formas de resistência. Este encontro não foi apenas um evento técnico ou institucional. Foi um ritual de escuta, cuidado e reconstrução. Uma convocação coletiva para reavivar a esperança onde há dor, para restaurar o equilíbrio onde há ausência, e para afirmar que os jovens indígenas do Alto Solimões são sementes de um novo tempo.

Que esse momento se torne memória viva, guia para as próximas ações, e que, como dizem os anciãos Tikuna: “Quando a juventude dança junto com os espíritos da floresta, o futuro floresce”.


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