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Foto: Jovens indígenas em diálogos com o Coordenador. |
No dia 13 de março de 2024, os jovens da Aldeia Umariaçu II mostraram que são a força viva do presente e do futuro do povo Magüta. Reunidos com o Coordenador do DSEI-ARS, Sr. Sildonei Mendes, e outras lideranças, membros da Rede de Jovens Indígenas Comunicadores do Alto Rio Solimões (REJICARS) conduziram um encontro histórico para o resgate e realinhamento de um antigo sonho: o Projeto Piloto para a Juventude Indígena do território.
O encontro, marcado pela presença de lideranças como o Coordenador Geral dos Estudantes Indígenas, José Fernandes, e a responsável técnica da Saúde Mental, Sra. Dirlene, foi mais que uma reunião: foi um chamado ancestral por dignidade, ocupação e vida. Os jovens da REJICARS, com firmeza e sabedoria, cobraram o retorno de políticas que nunca deveriam ter sido deixadas para trás, enquanto denunciavam os impactos do abandono e da negligência institucional.
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Foto: Equipes de DSEI/ARS, dialogando sobre o projeto. |
A proposta de reformulação do projeto de jovens comunicadores indígenas parte do princípio do protagonismo juvenil, algo que os Magüta sempre defenderam. O novo plano será construído com base em indicadores técnicos e comunitários, o que facilitará a captação de recursos e garantirá ações contínuas de formação, cultura, saúde mental, etnomídia e combate ao alcoolismo — feridas abertas nas juventudes invisibilizadas.
Com início previsto na Aldeia Umariaçu II, a iniciativa será uma semente para brotar em diversas outras aldeias da região do Alto Solimões. A proposta, guiada pelo pensamento Magüta, busca restabelecer laços comunitários, fortalecer identidades culturais e consolidar um sistema alternativo de acolhimento e fortalecimento da juventude indígena, com práticas descoloniais e enraizadas em saberes ancestrais.
O destaque para o combate à violência e ao uso abusivo de álcool evidencia o desejo de curar os traumas causados por políticas públicas ausentes ou mal executadas. Os jovens denunciam, com sabedoria, que a raiz do problema está na ausência de oportunidade. É por isso que o projeto também prevê oficinas de formação, incentivo à etnocomunicação e protagonismo nas mídias digitais, abrindo caminhos para novas gerações de narradores do próprio território.
A reunião foi também um espaço de cura espiritual. Os participantes, inspirados pelas bênçãos dos antigos Aēcacügü (caciques), realizaram falas que lembram a importância da continuidade da memória. O projeto não é apenas uma estratégia institucional; é um movimento de reconexão com o chão sagrado de onde brota a resistência do povo Ticuna. Cada jovem presente representava não só uma comunidade, mas toda a ancestralidade viva no Alto Solimões.
O REJICARS, com sua atuação consistente, já demonstrou que juventude e compromisso caminham lado a lado. Em tempos de desinformação e invisibilidade, esses jovens construíram pontes entre aldeias, cidades, ministérios e redes sociais. Agora, querem construir um centro de formação que seja também um espaço de escuta, arte e transformação, onde cada jovem indígena seja reconhecido como liderança em potencial.
A escuta dos órgãos presentes, especialmente da saúde indígena, mostrou que o tempo da omissão precisa acabar. O DSEI-ARS, ao ouvir atentamente as demandas da juventude, se comprometeu com a reformulação do plano de ação, garantindo o acompanhamento técnico e logístico necessário para a retomada. Este gesto, embora inicial, reacende a esperança de que o diálogo entre gerações e instituições seja possível e frutífero.
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Foto: Jovens do REJICARS. |
Para os Magüta, a juventude é como uma árvore nova que precisa de sombra, água e solo fértil para crescer com força. O Projeto Piloto da REJICARS é a sombra plantada pelos antigos e a água derramada por mães e pais que sonham com um futuro digno para seus filhos. O solo é a resistência do território, que, mesmo ferido, ainda floresce com sabedoria.
Este encontro entra para a história não como uma promessa, mas como um marco de retomada. O povo Magüta reafirma que a juventude indígena não é apenas o futuro — é o agora. E neste agora, eles se organizam, sonham e constroem, não esperando por respostas, mas exigindo-as com a força de quem tem o direito ancestral à vida plena.
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