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Foto: Etchire Magüta |
Tabatinga (AM), 2024 – O grupo Etchire Magüta é uma expressão viva da arte e resistência cultural do povo Tikuna na região do Alto Solimões. Formado por jovens e artistas indígenas, o grupo nasceu com a missão de fortalecer a identidade cultural e musical do povo Magüta por meio da criação artística, da valorização dos saberes ancestrais e da fusão criativa entre a tradição e as linguagens contemporâneas.
Fundado em junho de 2017 na aldeia Umariaçu I, no município de Tabatinga (AM), o Etchire Magüta representa um marco na renovação da arte musical indígena na tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru. O nome “Etchire” em língua Tikuna pode ser traduzido como “voz que vem de dentro”, remetendo à ancestralidade que orienta os cantos e os tambores que ecoam em seus ensaios, gravações e apresentações.
A proposta do grupo vai além da música. Etchire Magüta é um projeto etnoeducativo e cultural que entende a arte como instrumento de pertencimento, expressão de identidade e valorização da diversidade indígena. Através do canto, dos ritmos, da oralidade, da pintura corporal e dos grafismos tradicionais, o grupo resgata saberes e compartilha com o público indígena e não indígena – os sentidos profundos da espiritualidade, da cosmologia e da história do povo Tikuna.
Em suas composições, o grupo combina elementos da música tradicional Tikuna com gêneros da música popular contemporânea, criando uma sonoridade única que dialoga com o regional e o ancestral. Esse experimentalismo dá origem a uma música regional indígena própria, com letras em Tikuna e português, e ritmos que misturam maracá, flauta, voz coral, violão e outros instrumentos que os jovens indígenas aprenderam a manejar com autonomia criativa.
As canções lançadas pelo Etchire Magüta disponíveis no canal Etchire Magüta no YouTube são inspiradas em rituais, mitos, lendas e histórias de vida das comunidades. As letras evocam as narrativas orais dos mais velhos e também refletem preocupações atuais com a educação, saúde, meio ambiente, espiritualidade e o papel da juventude indígena.
Nesse processo, o grupo atua como multiplicador cultural dentro e fora da aldeia, propondo oficinas, rodas de conversa e apresentações públicas, inclusive em festivais regionais e eventos educacionais. Seus trabalhos já foram apresentados em escolas indígenas, encontros culturais, assembleias e fóruns de juventude.
Além da produção musical, o Etchire Magüta desenvolve ações educativas voltadas à formação artística e cultural de crianças, adolescentes e jovens Tikuna. Por meio de oficinas de música, grafismo, escultura e pintura tradicional, o grupo busca despertar o interesse dos mais jovens pelas manifestações culturais indígenas como forma de expressão política e afirmação identitária.
O projeto atua em parceria com escolas indígenas, associações comunitárias e lideranças tradicionais, contribuindo para o fortalecimento do ensino diferenciado e intercultural. A abordagem é baseada no protagonismo juvenil, no diálogo entre gerações e na valorização da língua Tikuna como elemento central da identidade do povo.
Outro aspecto marcante do grupo é seu compromisso com as causas socioambientais e comunitárias. Muitas das letras abordam temas como o cuidado com a floresta, o respeito às águas e a necessidade de proteger os territórios tradicionais contra ameaças externas, como o avanço do desmatamento, das drogas e da mineração ilegal.
A música, nesse contexto, é ferramenta de conscientização e mobilização comunitária, ampliando a voz dos povos indígenas na defesa da vida, do bem viver e dos direitos originários.
O Etchire Magüta também se insere no movimento mais amplo da etnomídia indígena decolonial, ao produzir e compartilhar suas obras por meio das redes sociais e plataformas digitais, como YouTube, Facebook e Instagram. Com isso, o grupo rompe com o silenciamento histórico imposto às culturas indígenas e mostra que os povos originários estão vivos, atuantes e inovando sem perder suas raízes.
Essa iniciativa dialoga com outras experiências de comunicação indígena na região, como o projeto Magüta Native, a Rádio Indígena Éware, e os coletivos de jovens comunicadores das etnias Tikuna, fortalecendo uma rede de produção cultural e política em defesa dos territórios da Pan-Amazônia.
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