Credito/Foto: La Magüta Native/Tchurucü Mepe Durante as atividades do I Seminário Diálogos Interculturais , uma comitiva do IFAM e parcer...
| Credito/Foto: La Magüta Native/Tchurucü Mepe |
Durante as atividades do I Seminário Diálogos Interculturais, uma comitiva do IFAM e parceria com a FUNAI realizaram uma imersão nas comunidades indígenas de Ticuna - Kokama de São Sebastião e Ticuna Umariaçu I, fortalecendo o diálogo direto com lideranças, professores e moradores das aldeias. A visita, marcada por acolhimento, falas tradicionais e relatos emocionados, revelou a profundidade das demandas e os desafios vividos pelas comunidades na oferta da educação escolar indígena.
Em São Sebastião, a cacica Lindalva e outras lideranças destacaram a crescente necessidade de políticas públicas que garantam não apenas o acesso, mas também a qualidade da educação bilíngue. Elas enfatizaram que a escola local ainda está em processo de implementação do currículo indígena e manifestaram preocupação com a continuidade do ensino da língua Ticuna nos anos iniciais, essencial para a revitalização cultural. As lideranças ressaltaram que muitas crianças enfrentam barreiras linguísticas e estruturais, como salas inadequadas e carência de materiais específicos, o que compromete a aprendizagem e o desenvolvimento escolar.
Na comunidade de Umariaçu I, professores e lideranças apresentaram um panorama semelhante. Eles explicaram que, embora a escola desempenhe um papel fundamental no fortalecimento cultural, enfrenta limitações marcantes, como dificuldades de articulação entre as escolas da aldeia e instituições urbanas. Relataram ainda que estudantes que ingressam no IFAM ou em outras instituições federais chegam motivados, porém encontram barreiras posteriores, inclusive no mercado de trabalho, onde diplomas não são reconhecidos por algumas gestões municipais. As lideranças denunciaram também interferências político-partidárias que prejudicam avanços na educação indígena, relatando casos em que profissionais foram ameaçados de perder seus empregos ao reivindicar melhorias.
Diante dessa realidade, as lideranças solicitaram maior presença do IFAM nos territórios, tanto na formação inicial quanto na oferta de programas de extensão continuada dentro das comunidades. Ressaltaram que o contato direto com a instituição fortalece a autodeterminação dos povos e amplia as oportunidades para os jovens que desejam seguir trajetória acadêmica.
| Credito/Foto: La Magüta Native/Tchurucü Mepe |
Durante a imersão, membros da comitiva e participantes do seminário puderam dialogar diretamente com professores, cacicas, anciões e jovens, que expressaram o desejo de continuar estudando, mas pediram que o IFAM avance na construção de políticas consistentes de inclusão. Entre as principais demandas, destacam-se: ampliação de vagas destinadas a estudantes indígenas; criação de cursos orientados às necessidades dos territórios, como agroecologia, gestão territorial, saúde indígena e produção cultural; implementação de bolsas específicas para estudantes em vulnerabilidade; e fortalecimento do diálogo permanente entre docentes do IFAM e lideranças tradicionais.
A visita reafirmou a importância da escuta ativa e da construção conjunta de estratégias que valorizem os saberes tradicionais e respeitem a diversidade cultural do Alto Solimões. Para as lideranças, a presença do IFAM nos territórios representa um passo essencial na promoção de uma educação intercultural de qualidade, construída de forma participativa e alinhada às realidades dos povos indígenas da região.
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