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Territórios de Memorias


APRESENTAÇÃO

Autor: Tchurucü Mẽpe

A proposta do projeto Territórios de Memórias nasce da necessidade urgente de registrar, valorizar e difundir as vivências, culturas, artes e resistências do povo Magüta (Ticuna), habitantes tradicionais da região do Alto Solimões. Trata-se de um movimento coletivo de afirmação cultural e política, onde os próprios indígenas assumem o papel de protagonistas na produção, edição e veiculação de conteúdos audiovisuais, fotográficos e escritos. Ao contrário de iniciativas externas que historicamente subjugam e silenciam vozes indígenas, este projeto se coloca como instrumento de autonomia, preservação da memória coletiva e defesa dos territórios tradicionais.

A memória é um território em si. Ela guarda, protege e dá sentido às lutas e à continuidade da existência de um povo. Os Territórios de Memórias buscam, portanto, construir um espaço vivo e dinâmico de lembranças, narrativas e produções audiovisuais que expressem o olhar indígena sobre o mundo e sobre si mesmos. Aqui, a memória não é apenas registro: é também arma de resistência contra as múltiplas formas de apagamento cultural.

Nesse sentido, a proposta reconhece a importância dos guardiões da memória Magüta, que preservam saberes ancestrais e que agora encontram nas tecnologias contemporâneas um caminho para dar continuidade à sua missão. Fotografia, edição de vídeos, produção de documentários e veiculação em plataformas digitais são compreendidos não apenas como ferramentas técnicas, mas como meios de reafirmar a dignidade, a autonomia e a vitalidade cultural do povo Magüta.


O PROTAGONISMOS DOS AUTORES MAGÜTA

O projeto se diferencia de modelos convencionais de pesquisa e produção audiovisual porque toda a sua concepção, execução e gestão é realizada por indígenas Magüta. São comunicadores, lideranças, jovens pesquisadores e anciões que constroem, em diálogo, um acervo vivo de memórias, lutas e histórias.

A inspiração parte da crítica de MacDougall (1998), que evidencia como muitos trabalhos etnográficos acabaram por subjugar as vozes indígenas, privilegiando olhares externos. Em contraposição, Territórios de Memórias é feito para e pelos próprios Magüta, respeitando os objetivos e prioridades das comunidades. Não se trata, portanto, de um projeto pensado para gerar lucro, mas de um espaço de expressão cultural e fortalecimento coletivo.


Objetivos centrais

Valorizar a produção indígena: destacar os próprios autores indígenas como protagonistas e responsáveis pela construção de histórias visuais e textuais.

Preservar a cultura imaterial: registrar cantos, rituais, danças, histórias orais, artes visuais e modos de vida, assegurando sua transmissão às futuras gerações.

Fortalecer a mídia indígena: criar condições para a produção, edição e veiculação de conteúdos digitais e impressos, por meio de uma rede de comunicadores Magüta.

Proteger os territórios tradicionais: documentar a relação entre povo, território e espiritualidade, reforçando o papel da memória como instrumento de defesa territorial.

Difundir internacionalmente as vozes indígenas: levar ao mundo o olhar Magüta sobre si mesmos, rompendo estigmas coloniais e etnográficos que por muito tempo dominaram os discursos.


CULTURA IMATERIAL NO MEIO DIGITAL

Em tempos de avanço tecnológico e digitalização das práticas sociais, torna-se essencial que os povos indígenas apropiem-se das ferramentas digitais sem abrir mão de sua autonomia cultural. Nesse contexto, Territórios de Memórias aposta em plataformas virtuais, redes sociais e acervos digitais como meios de difusão de práticas culturais imateriais. A digitalização não é vista como substituição, mas como extensão da oralidade e da tradição, que se fortalece ao alcançar novos públicos.

Os vídeos, documentários e demais produções realizadas no âmbito do projeto serão publicados e disponibilizados no canal oficial do YouTube “LA MAGÜTA NATIVE”, espaço criado pelos comunicadores indígenas para dar visibilidade e circulação internacional às vozes e às memórias Magüta.


ESTRATEGIA METÓDOLOGICAS

O projeto prevê uma série de ações articuladas:

Formação técnica de comunicadores Magüta em audiovisual, fotografia, edição e design gráfico;

Produção de documentários e curtas-metragens sobre territórios, memórias e histórias de vida;

Registro fotográfico de lideranças, festas, rituais e momentos significativos das comunidades;

Criação de acervo digital comunitário, acessível e gerido coletivamente pelos comunicadores indígenas;

Oficinas intergeracionais, promovendo o diálogo entre jovens e anciãos na produção de conteúdos;

Exibições comunitárias e transmissões online, garantindo que os conteúdos circulem tanto dentro quanto fora dos territórios.


AUTONOMIA COMO PRINCÍPIO

O projeto reafirma que a autonomia indígena é inegociável. A produção de conteúdos não estará a serviço de interesses externos, mas será orientada pelas prioridades e decisões coletivas das comunidades. Os materiais produzidos sejam documentários, registros fotográficos ou acervos digitais terão como função principal servir ao fortalecimento cultural interno e à defesa política do povo Magüta.

Além disso, o projeto não busca se inserir na lógica de mercado da comunicação de massa. Ao contrário, deseja demonstrar que os Magüta possuem plena capacidade de manejar ferramentas contemporâneas de comunicação sem perder de vista o enraizamento em sua própria cosmovisão.


IMPACTOS ESPERADOS

Entre os impactos esperados, destacam-se:

Fortalecimento da identidade cultural indígena, especialmente entre jovens;

Constituição de um acervo audiovisual e fotográfico que valorize a memória coletiva e registre as lutas de defesa territorial;

Maior visibilidade internacional das pautas Magüta, promovendo diálogos interculturais e descolonizados;

Proteção e salvaguarda da cultura imaterial, assegurando sua continuidade frente às ameaças externas.


CONSIDERAÇÃO FINAIS

O projeto Territórios de Memórias não é apenas um espaço de produção de conteúdos, mas sim um processo coletivo de fortalecimento cultural, político e identitário. Ele demonstra que os povos indígenas, em especial os Magüta, possuem não apenas o direito, mas também a capacidade de manejar com excelência as ferramentas contemporâneas de comunicação para defender seus territórios, preservar suas memórias e projetar suas vozes no cenário global.


Como afirmam os próprios comunicadores Magüta:

“Não falamos apenas para registrar, mas para continuar existindo, para que nossas memórias fortaleçam nossas vidas, nossas terras e nossos futuros.”

Assim, Territórios de Memórias se firma como um projeto de vida, que une tradição e tecnologia, ancestralidade e inovação, memória e futuro, sempre a serviço da coletividade indígena e da proteção dos territórios do povo Magüta.

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