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Foto: La Magüta Native |
Você já ouviu falar da Rádio Indígena A'uma?
Localizada na TI EWARE I, na maior aldeia indígena do Alto Solimões, Aldeia Belém
do Solimões, do município de Tabatinga AM, a rádio nasceu em
2021 como uma poderosa ferramenta de comunicação comunitária e fortalecimento
da cultura do povo Magüta (Tikuna). Seu nome, "A’uma", carrega uma força simbólica
ancestral, vem do pássaro conhecido como Capitão do Mato
(Cricrió), cujo canto
é considerado sagrado pelos anciãos Magüta até os dias
de hoje. Essa inspiração traduz o sentido da rádio: um canto
que ecoa do território, conectando passado, presente e futuro.
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Foto: La Magüta Native |
Desde seu início, a rádio funcionou como emissora
web e local, com uma programação feita
majoritariamente na língua Magüta, além de
conteúdos em português. Os temas abordados priorizam a valorização da cultura
ancestral, saúde indígena, educação e, especialmente, a
terceira idade, que ocupa um papel de honra no pensamento tradicional.
Para os Magüta, a sabedoria dos mais velhos é essencial na condução da vida
coletiva e isso se reflete diretamente na missão da rádio.
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Foto: La Magüta Native |
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Além dos anciãos, os jovens
Magüta também têm se destacado fortemente nas programações da
Rádio Au’ma. Com criatividade, compromisso e profundo respeito às tradições,
eles vêm ocupando os microfones para dialogar sobre temas como identidade
indígenas, juventude indígena, tecnologias digitais, direitos indiígenas,
espiritualidade e meio ambiente. Muitos programas são elaborados
e conduzidos por jovens comunicadores, que mesclam a língua Magüta e o
português para alcançar públicos diversos, mantendo viva a oralidade ancestral
ao mesmo tempo em que abrem caminhos para novas formas de expressão. A
participação da juventude fortalece o sentido coletivo da rádio, reafirmando
que a comunicação indígena é intergeracional,
inovadora e essencial para o futuro dos povos originários.
Foto: La Magüta Native |
A Rádio A’uma também evidencia uma transformação importante, a comunicação deixou de ser um espaço restrito aos não indígenas (brancos). Hoje, os jovens indígenas Magüta estão se posicionando com firmeza e criatividade em diversos meios e espaços de fala, inclusive nas plataformas digitais e nas rádios comunitárias. Ao assumirem o microfone, as câmeras e os roteiros, eles mostram que a comunicação é um direito de todos os povos, e que suas vozes também constroem histórias, informam, educam e inspiram. A presença ativa dos jovens na Rádio Au’ma é reflexo de um movimento maior de fortalecimento identitário e afirmação cultural, em que os próprios indígenas narram suas histórias e realidades com autonomia e orgulho de sua origem.
Foto: La Magüta Native |
Recentemente, a emissora passou por um processo de mudança de nome, sendo temporariamente chamada de Rádio Indígena Eware, em referência ao território sagrado do povo Magüta. No entanto, para fortalecer sua identidade original e o simbolismo de sua origem, o nome "Rádio A’uma" será mantido como oficial. Desde 2021, a rádio está em processo de regulamentação junto ao Ministério das Comunicações e, em 2025, há sinalizações positivas para a conquista do registro definitivo de funcionamento, que será A'UMA 1ª Rádio Comunitária WEB e LOCAL do TI EWARE I, a o que representa um passo fundamental para sua consolidação como veículo legítimo e autônomo da comunicação indígena na região do alto Solimões.
Foto: La Magüta Native |
Atualmente,
a Rádio A’uma é gerenciada pela
ADACAIBS – Associação de Desenvolvimento Artístico e Cultural da Aldeia
Indígena de Belém do Solimões, uma organização local comprometida com o
fortalecimento das expressões culturais do povo Magüta. No início, a rádio
contou com a parceria fundamental dos
Frades Capuchinhos Menores da Paróquia São Francisco, que colaboraram
para sua estruturação e primeiros passos. Com o passar do tempo, a caminhada foi
sendo assumida pelos próprios jovens
indígenas, que hoje atuam na produção, locução e coordenação das
atividades da rádio. Ao ocuparem esse espaço, os jovens estão construindo novos caminhos de comunicação
comunitária, sempre guiados pelos valores coletivos e pelo respeito às culturas e memórias ancestrais,
mantendo viva a força espiritual e política do seu povo.
Foto: La Magüta Native |
A experiência da Rádio Au’ma revela como a
comunicação indígena vai muito além da informação, ela é uma ferramenta
de resistência, educação e mobilização territorial. Os jovens
Magüta, ao assumirem papéis centrais na gestão e produção dos conteúdos,
reafirmam seu compromisso com a defesa do território,
da língua e da memória ancestral. Por meio das ondas sonoras,
eles denunciam ameaças, compartilham saberes e fortalecem a união comunitária
frente aos desafios contemporâneos. A rádio se tornou um espaço onde os jovens
exercitam sua autonomia política, protagonismo cultural
e capacidade organizativa, contribuindo diretamente para a
proteção das terras indígenas, a promoção da justiça ambiental e a preservação
das espiritualidades. Assim, a Rádio Au’ma segue como símbolo vivo de um povo
que comunica, canta, resiste e que não abre mão de existir
em sua plenitude.
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