Bem Viver com Orgulho: A Caminhada LGBTQIA+ nas Florestas do Alto Solimões

Foto: La Magüta Native

No dia 28 de julho de 2025, a Terra Indígena Umariaçu, no município de Tabatinga (AM), viveu um momento histórico e profundamente simbólico para a luta por igualdade, reconhecimento e dignidade da população LGBTQIA+ indígena. A visita oficial de representantes do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), por meio da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ e acompanhado pela equipe CAIS Povos Indígenas, marcou um passo fundamental na construção de políticas públicas inclusivas nos territórios indígenas e fronteira em região do Alto Solimões.

A missão institucional faz parte do Programa Nacional de Enfrentamento à Violência e Promoção dos Direitos Humanos das Pessoas LGBTQIA+ nos Territórios do Campo, das Águas e das Florestas – Programa Bem Viver+, instituído pela Portaria Interministerial nº 1/2024, firmada entre o MDHC, MPI e o Ministério da Igualdade Racial (MIR). A proposta é ousada e necessária: escutar com respeito e profundidade os relatos de violações de direitos humanos vividas por LGBTQIA+ indígenas em regiões de fronteira e construir uma agenda de fortalecimento das redes de proteção, visibilidade e dignidade.

Foto: La Magüta Native

A reunião foi realizada na Casa da Moça Nova, local de importância cultural e simbólica para os Magüta, situada na aldeia Umariaçu I. Estiveram presentes lideranças tradicionais, representantes LGBTQIA+ das comunidades indígenas locais (Umariaçu I e II), representantes do movimento LGBTQIA+ da Tríplice Fronteira (Brasil, Colômbia e Peru) e convidados do município vizinho de Benjamin Constant.

O encontro foi permeado por falas emocionadas, reflexões coletivas e expressões de resistência, ressaltando a urgência de políticas públicas específicas para juventudes indígenas LGBTQIA+, muitas vezes silenciadas dentro e fora das aldeias. A iniciativa parte de um entendimento ampliado de direitos, onde a escuta ativa e o diálogo intercultural são os pilares para o enfrentamento do preconceito e da marginalização.

Foto: La Magüta Native

Durante o encontro, a comunidade LGBTQIA+ Tikuna entregou uma Carta de Demandas ao MDHC e MPI. O documento expressa a realidade vivida por jovens indígenas que enfrentam duplas ou triplas discriminações: por serem indígenas, LGBTQIA+, e por viverem em territórios historicamente negligenciados pelo Estado.

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A presença institucional do Estado em Umariaçu reafirma um compromisso com a valorização da diversidade dentro dos povos originários, rompendo a lógica colonial que tenta invisibilizar corpos e afetos dissidentes dentro dos territórios indígenas.

Foto: La Magüta Native

O preconceito não é uma característica das culturas originárias: ele é uma herança da colonização e do patriarcado. A diversidade de corpos, expressões de gênero e orientações afetivas já existia nos mundos indígenas muito antes da chegada dos colonizadores. No universo cosmológico Magüta, por exemplo, há espaço para múltiplas formas de ser e existir e é com base nessa ancestralidade que os jovens LGBTQIA+ estão reivindicando o direito de viver com dignidade, visibilidade e respeito.

A missão também compreende uma agenda bilateral com o governo colombiano, com passagem pelo município de Puerto Nariño, reforçando o caráter transfronteiriço da pauta. A realidade das comunidades indígenas LGBTQIA+ na tríplice fronteira exige uma cooperação internacional efetiva, que respeite as especificidades culturais, linguísticas e sociais dos povos indígenas da região amazônica.

Foto: La Magüta Native

A Terra Indígena Umariaçu foi palco de um dialogo que entra para a história da luta pelos direitos humanos na região do Alto Solimões. Com sabedoria ancestral e coragem juvenil, os jovens Magüta LGBTQIA+ indígena estão reocupando os espaços de fala e decisão que sempre foram seus por direito. A mensagem é clara: “nossos corpos são territórios de resistência e espiritualidade”.

A diversidade é uma potência originária, e o Bem Viver conceito que norteia o Programa não pode existir sem justiça, equidade e reconhecimento da pluralidade de existências. O futuro será mais justo se incluir todos os corpos, cores, gêneros, amores e cosmologias.

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