Diversidade cultural só será verdadeira quando deixarmos de falar sobre os povos indígenas e começarmos a falar com eles

Foto: La Magüta Native


O reconhecimento e a valorização da diversidade cultural estiveram no centro das discussões da II Mostra de Arte: Repertórios, Estesia & Poieses, realizada pelo curso de Letras do Centro de Estudos Superiores de Tabatinga da Universidade do Estado do Amazonas (CESTB/UEA). O evento fez parte da programação da XV Semana de Pedagogia, que reuniu docentes, discentes, egressos e a comunidade local para refletir sobre educação, cultura e os desafios contemporâneos.

Em uma iniciativa inédita, a Mostra ultrapassou os muros acadêmicos e se deslocou até o território indígena Umariaçu, situado na cidade de Tabatinga (AM), habitado majoritariamente pelo povo Ticuna (Magüta). Esse gesto representou mais do que uma simples atividade de extensão, foi uma escolha simbólica e política de reconhecer os povos indígenas como sujeitos de diálogo e parceiros de produção de conhecimento.

A mesa de debate “Diversidade Cultural: histórias, lutas e horizontes” abriu espaço para uma reflexão decolonial sobre como as narrativas indígenas vêm sendo construídas, silenciadas ou ressignificadas ao longo da história. 

Foto: La Magüta Native

Essa afirmação sintetiza a urgência de romper com práticas históricas de exclusão e exotização, reconhecendo os povos originários não apenas como objetos de estudo, mas como protagonistas na produção de saberes, artes e políticas culturais.

A II Mostra de Arte buscou articular diferentes linguagens fotografia, literatura, artes visuais e performances promovendo uma experiência imersiva. A proposta foi aproximar o público das expressões artísticas locais, estimulando a compreensão de que arte não se limita à estética, mas envolve processos históricos, memórias coletivas e resistências.

O termo “Repertórios” remete à pluralidade de práticas e expressões apresentadas; “Estesia” enfatiza a dimensão sensorial e afetiva da arte; e “Poieses” resgata o ato criador que atravessa gerações, renovando sentidos e horizontes.



No território Umariaçu, essa vivência foi intensificada pela presença de jovens estudantes indígenas, professores e outros, que compartilharam experiências sobre língua, tradição oral e novas formas de criação cultural, como literatura e cinema indígena.

A iniciativa contou com o apoio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Eventos (PADEV), vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PROEX), e com a parceria do setor de Projetos da Fundação Muraki. Essas colaborações foram fundamentais para viabilizar a programação e fortalecer o caráter comunitário do evento, ampliando sua relevância social e acadêmica.

Ao realizar atividades em território indígena, a UEA demonstrou o compromisso com uma extensão universitária transformadora, que não apenas leva conhecimento, mas também aprende, escuta e reconhece saberes tradicionais. Esse movimento rompe com a lógica colonial de olhar “de fora” e se propõe a construir pontes de diálogo horizontal.

Foto: La Magüta Native

A presença de estudantes e professores nesse espaço possibilitou encontros intergeracionais e interétnicos, marcados pelo respeito e pela troca de experiências. A diversidade cultural, nesse contexto, não aparece como conceito abstrato, mas como vivência concreta: a escuta da língua Ticuna, o contato com os grafismos, a partilha das narrativas e o reconhecimento de histórias de resistência.

A XV Semana de Pedagogia da UEA/Tabatinga mostrou que a formação acadêmica ganha sentido quando se conecta à realidade e às lutas locais. O debate sobre diversidade cultural e decolonialidade apontou para a necessidade de que as instituições de ensino superior estejam abertas a coexistir com outras epistemologias e a valorizar os povos indígenas como parte essencial da produção cultural amazônica e brasileira.

Como destacou um dos participantes: “A diversidade não é coleção de diferenças. É um convite para repensarmos juntos o que é humanidade.

Ao final, a mensagem que ecoou foi clara: a verdadeira diversidade cultural só se realiza quando há diálogo real, escuta sensível e reconhecimento da centralidade dos povos indígenas no presente e no futuro da sociedade brasileira.


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